O arquiteto
Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962) foi um dos mais reconhecidos arquitetos do movimento eclético português. Depois de uma rápida formação em Paris na École des Beaux-Arts e no Atelier Pascal, durante o ano de 1903, regressou a Portugal para trabalhar com os arquitetos Rosendo Carvalheira (1864-1919) e Adães Bermudes (1864-1948). Depressa estabelece o seu atelier, e a primeira obra solicitada ao jovem Norte chegou por mão do pintor José Malhoa (1855-1933), que em 1904 lhe encomendou o singular e inovador projeto da sua casa-atelier na cidade de Lisboa. O arquiteto iniciava então uma extensa carreira, durante a qual ganhou cinco distinções principais e duas menções honrosas do Prémio Valmor, mantendo-se ativo até ao final da sua longa vida.
A obra
Norte Júnior é conhecido pelos espaços habitacionais que desenhou, tanto palacetes como prédios plurifamiliares, mas soube também mostrar a sua perícia enquanto projetista ao desenhar espaços de tipologia tão distinta como cinemas, escolas, armazéns, bancos, estâncias termais ou edifícios de assistência hospitalar. A todos imprimiu a faceta de arquiteto decorador pela qual é recordado, em programas decorativos de aprimorada elegância. Nas obras mais tardias, das décadas de 30 e 40, manteve o seu cunho pessoal face a um Modernismo emergente.
Atualmente, são referenciadas mais de 150 obras e projetos da sua autoria, que o evidenciam como um arquiteto exímio, revelando-se não apenas excecional no desenho do exuberante ornato que ao Ecletismo se pedia, mas também extraordinário nas soluções estruturais dos espaços que projetou, apresentando soluções construtivas atuais e funcionais. E nesta simbiose Norte Júnior foi, também, o eclético por excelência.
1905-1929
Os anos de 1905 e 1929 balizam a primeira etapa da carreira de Norte Júnior, que se pode designar como a fase eclética da sua obra, durante os quais o arquiteto desenhou os seus edifícios mais emblemáticos, por reconhecimento e dimensão.
Das 32 construções que integram este conjunto dos anos 1905-1929, destacam-se a Casa Malhoa e a moradia contígua que hoje integram a Casa Museu Anastácio Gonçalves, as vivendas da Avenida Fontes Pereira de Melo, da Praça do Saldanha e da Avenida de Berna, os palacetes que desenhou em Faro para os industriais Belmarço e Fialho, os cafés da Baixa, a escola da Voz do Operário, a Vivenda Rosalina e o Royal Cine, integrados no Bairro Estrela d’ Ouro, os armazéns dos vinhos Abel Pereira da Fonseca, em Marvila, o Palace Hotel da Curia, as Cocheiras de Santos Jorge no Estoril e o projeto dos Prédios Salreu, dois edifícios de habitação plurifamiliar geminados que projetou como conjunto uno para o Visconde de Salreu na Avenida da Liberdade e na Rua Rodrigues Sampaio, ou os três prédios na Avenida Duque d’ Ávila que definem a essência da sua obra: uma arquitetura eclética e elegante, harmonizada com os princípios do urbanismo e da higiene identificadores do espírito da Lisboa moderna de Ressano Garcia, que atualmente constituem um dos poucos núcleos originais dos edifícios das Avenidas Novas.
A partir de 1930 assiste-se a uma clivagem na obra de Norte Júnior, que abandonou os projetos de edifícios marcados por programas decorativos com elementos classicistas e de inspiração Arte Nova, afastando-se do ecletismo elegante e afrancesado que lhe era tão característico.
Este conjunto de edifícios está organizado por áreas geográficas específicas, para que o utilizador possa conhecer as obras de Norte Júnior ao passear a pé pela cidade de Lisboa. A estes juntam-se os imóveis fora da capital, nomeadamente os que se localizam na Costa do Estoril, na Região Centro e no Algarve.
Cada uma das fichas disponibiliza um mapa em pdf, que pode ser descarregado ou impresso.
Textos: Catarina Oliveira /DPIMI/DGPC/2016
Fotografias: Catarina Oliveira /DPIMI/DGPC/2016
Coordenação: Deolinda Folgado /DPIMI/DGPC/2016
Agradecimentos:
Arquivo Municipal de Lisboa
Casa-Museu Anastácio Gonçalves
Embaixada de Itália
EMEL
Hotéis Alexandre de Almeida, Lda.
Hospital de Sant’Ana - Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário