Fixada em Portugal desde o século XII, a Ordem de Cister acompanhou a formação do território e a afirmação política da primeira dinastia.
Estendendo progressivamente os seus mosteiros nas regiões centro e norte graças à especial proteção régia, os monges brancos contribuíram de forma decisiva para a colonização e desenvolvimento das vastas áreas que ocuparam, aplicando técnicas agrícolas inovadoras e intensivas e, sobretudo, uma grande disciplina de organização do espaço.
Os conjuntos monásticos, que seguiam métodos de implantação e distribuição espacial muito semelhantes, revelam também partidos arquitetónicos e construtivos afins, o que lhes confere um inegável ar de família. Muitos deles conservam, ainda hoje, importantes espólios artísticos que incluem azulejaria e pintura, talha dourada, ourivesaria, escultura e outros testemunhos da evolução da arte portuguesa ao longo dos últimos séculos.
É, no entanto, a privilegiada relação com a paisagem que os torna, aos nossos olhos, singulares. Se os mosteiros de Cister conseguiram transformar as envolventes, mercê do desbravamento de terras e da planificação de engenhosos sistemas hidráulicos, com encanamento e encaminhamento de caudais, construção de enormes condutas subterrâneas ou regularização das margens de rios e ribeiras, eles fazem atualmente parte integrante de unidades paisagísticas mais vastas, às quais dão um valor acrescido que importa preservar e valorizar.
Santa Maria das Júnias, Montalegre, Vila Real
Implantado num magnífico vale, o mosteiro, cuja primeira construção remonta ao séc. IX, destinava-se a albergar frades beneditinos, tendo sido durante o século XII entregue à Ordem de Cister.
A igreja, de nave única e cobertura de madeira, conserva ainda um interessante portal lateral, românico, e um retábulo seiscentista, na capela-mor.
Santa Maria do Bouro, Amares, Braga
Entregue, por D. Afonso Henriques, à Ordem de Cister, pouquíssimos vestígios evocam o edifício românico original.
A igreja, em excelente estado de conservação, foi completamente remodelada no século XVII, conservando importantes espólios de talha e escultura barroca, admirando-se na sacristia exemplares painéis historiados de azulejos azuis e brancos.
O edifício conventual está, hoje, transformado em Pousada.
Santa Maria das Salzedas, Tarouca, Viseu
Fundado no século XII, o Mosteiro de Salzedas apresenta raros vestígios da edificação primitiva.
O conjunto que chegou aos nossos dias resulta das profundas campanhas de obras dos séculos XVI, XVII e XVIII, quando se construíram os dois claustros subsistentes, se remodelou o espaço interior da igreja e se refez completamente a fachada.
Destaca-se na sacristia, entre outras peças de grande valor artístico, o ciclo de pinturas de Bento Coelho da Silveira, bem como, na cerca, a capela do Desterro, de elegante planta centralizada.
São João de Tarouca, Tarouca, Viseu
Foi o primeiro mosteiro da Ordem de Cister em Portugal, remontando a fundação a 1144. A igreja, de três naves, transepto saliente e uma profunda capela-mor totalmente remodelada no século XVII, apresenta uma abóbada de berço que repousa em robustos pilares de granito.
O acervo da igreja inclui o túmulo trecentista de D. Afonso Sanches, bastardo de D. Dinis, tábuas de Gaspar Vaz e um cadeiral em talha dourada, do século XVIII.
São de destacar as imponentes ruínas do dormitório e o conjunto de condutas subterrâneas relacionadas com o sistema hidráulico do convento.
Nª Srª da Assunção de Tabosa, Sernancelhe, Viseu
Construído no século XVII, o conjunto conventual está hoje em ruína, deixando embora adivinhar uma rara tipologia arquitectónica, sobretudo pela presença dominante, na frontaria, da torre do mirante.
A igreja conserva um bom acervo de talha dos séculos XVII e XVIII bem como, na capela-mor, um curioso tecto de caixotões pintados com motivos de brutesco.
Sta Maria de Lorvão, Penacova, Coimbra
Remontando a fundação ao século IX, só no reinado de D. Sancho I foi entregue a freiras cistercienses. A igreja de nave única, cúpula sobre o cruzeiro e coro baixo de grandes dimensões onde se encontra um magnífico cadeiral barroco, foi completamente modernizada no século XVIII.
No claustro, de saboroso recorte clássico, distribuem-se treze capelas renascentistas, de rica decoração talhada no brando calcário da região.
Sta Maria de Ceiça, Figueira da Foz, Coimbra
Já anteriormente ao século XII, quando os frades de Ceia adoptaram a regra de S. Bernardo, aqui existia uma pequena comunidade monástica. O conjunto arquitectónico data, porém, dos séculos XVI, XVII e XVIII, quando se construiu o claustro, se ergueu o dormitório e se transformou a igreja.
O templo, de nave única, capelas laterais à face, transepto saliente e duas torres sineiras de cúpulas bolbosas na fachada, foi muito adulterado no século XX, tendo-se apeado a cabeceira para a construção da linha de caminho-de-ferro e instalado, no interior, uma unidade industrial de descasque de arroz.
Sta Maria de Alcobaça, Alcobaça, Leiria
O mosteiro de Santa Maria de Alcobaça tornou-se, desde a sua fundacão em 1153, casa-mãe da Ordem em Portugal. Obra maior do primeiro gótico nacional, conserva daquela época o edifício da igreja, de três naves, deambulatório e capelas radiantes, o dormitório, o refeitório e o claustro de D. Dinis.
Sucessivamente alterado e ampliado, com especial incidência nos séculos XVI e XVII, quando se construíram novos claustros e se barroquizou a frontaria, deu origem a um conjunto monumental que constitui, actualmente, o mais importante dos testemunhos cistercienses em toda a Europa.